quarta-feira, 26 de novembro de 2008

25 de NOVEMBRO - Aniversário de Zé Rodrix!!!

Parabéns, Zé!!!!



Num primeiro momento, e lá se vão muitos anos, eu era menina e o achava engraçado; depois conheci melhor e achei um cara doidão; mais tarde ainda o que esse cara dizia fazia muito sentido; há poucos anos esse quebra cabeças se completou em uma figura excepcional, complexa, mas completa, a quem admiro profundamente, de quem adoro aprender!

Esse é o Zé Rodrix que fez aniversário ontem, a quem desejamos toda possível felicidade existente na face da Terra, pra que ele possa internalizar e traduzir isso em energias, letras, músicas, que nos emocionem, nos façam pensar, nos façam sorrir.



Não esquecemos o bolo de chocolate!!!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

20 de Novembro: Aniversário de Guttemberg Nery Guarabyra

Parabéns GutByra, Gutty, Gut, Guarabyra, "Sá & Guarabyra", Guttemberg, Guttemberg Guarabyra!!!

Felicidades!!

Gut, que entrou nas nossas vidas não sei bem quando e com todo o seu carisma e sensibilidade se tornou parte integrante de todos os nossos momentos...talvez pela delicadeza de suas canções maravilhosas, ou pelas palavras tão bem colocadas nessas crônicas tão sensíveis, ou quem sabe, pelo carinho e respeito que dedica a todos, mostrando ser uma pessoa linda e iluminada...
Grande beijo e todos os votos de saúde, paz, realizações, amor, luz e grandes alegrias na sua vida...FELIZ ANIVERSÁRIO e FELIZ TODO DIA...SEMPRE!!!

Marlene.


Meu desejo de "Fada Azul" é que o mundo te cubra de bençãos para que vc continue a alegrar os corações de tanta gente com suas canções, com suas palavras, escritas ou cantadas, traduzindo a liberdade
no seu jeito de ser!

Hilda




Amarelo Ouro
guttemberg guarabyra
...

— Sabe o que mais? Não acho que deva mudar minha vida agora, trocando meu mundo atual para partilhar de outro com você.
— Mas eu não estou pedindo que você troque de vida...
— Sei que não está. Ao mesmo tempo, porém, acho que, um dia, isso terá de acontecer. Nós estamos ligados eternamente um ao outro. Eu sinto isso...
— Sabe que também acho isso? Até sonhei outro dia que estávamos viajando por um lugar bonito e que nunca nos separávamos porque estávamos atados por uma espécie de corda...
— Por uma fita!
— Uma fita? Engraçado, eu acho que era mesmo uma fita.
— Uma fita amarelo-ouro.
— Hahaha. Uma fita amarelo-ouro? Que chique! Bem, pelo menos nossas vidas não estão amarradas por uma coisa qualquer. Mas uma fita não é muito frágil?
— Claro que não. É uma fita larga, de seda resistente. E, ainda, feita de muitos anseios, de muitos sonhos. Uma fita assim dura por uma eternidade.
— Nem brinca. Não quero saber de tanta demora. Ou a gente resolve agora ou fim de papo.
— Olha, pra falar sério, eu gosto muito de você.
— Eu também de você...
— Até esta história de que alguma coisa invisível nos une eu acho que é verdade. Às vezes, ainda que eu tenha muito medo, vejo-me pensando que poderíamos realmente juntar nossos mundos...
— Acho que ainda daria uma ótima mistura.
— Como ainda?
— Porque já estivemos misturados antes, não é? E eu desconheço duas essências que, misturadas uma vez, não possam ser misturadas de novo.
— Quem sabe nossas fórmulas, nesses anos em que passamos separados, não tenham sido alteradas? Quem sabe não nos transformamos em outra coisa e hoje nossas moléculas não se combinem mais?
— Bem, pela maneira como você resiste, estou chegando à conclusão de que você não quer mais saber de mim. Então por que concordou com este encontro?
— Ora, porque estamos amarrados. Já esqueceu?
— Tá certo. Por isso mesmo não entendo o que viemos fazer aqui se não foi pra assumir isso e tentar de novo.
— Acontece que tenho medo. Temo que nossos mundos já não possam mais ser misturados...
— Queria tanto que pudessem...
— Eu também.
— Vem cá, deixa ver sua mão. Sabia que esta linha aqui é a da emoção?
— Achava que era. Mas nunca dei importância. O que você vê nela?
— Não entendo muito disso. Só que esta é tão forte, tão marcada, tão profunda, que tive de reparar.
— Como é a sua?
— Não tão especial, veja.
Por muito tempo permaneceram assim, de mãos dadas, olhando-se, sentindo o calor mútuo e experimentando a sensação de que uma nova vida surgia bem ali à frente. Lentamente, aproximaram os rostos. De perto, reconheceram-se no olfato, no calor da pele, embora houvessem estranhado um pouco o beijo rápido e inseguro. A felicidade, porém, estava ali. Não poderia ser uma armadilha, não tinha jeito de embuste, erro.
— Desencana que a vida engana!
Imediatamente pararam de devanear e caíram na gargalhada ao relembrar a frase que haviam pichado juntos nos muros da faculdade.
Logo o riso foi se dissipando. Olharam-se bem nos olhos, a noite ameaçava cair.
— Tenho de ir.
— Eu também.
— O que você propõe?
— Nada. Mas não tenho mais medo. Acho que a fita que nos envolve é muito forte.
— E muito bonita.
— Amarelo-ouro.
— Amarelo-ouro.
À beira da calçada, diante das primeiras luzes dos carros brilhando no lusco-fusco do anoitecer, observou a mão dando adeus pela janela do ônibus que se afastava. E enxergou, desde aquele adeus até o seu, aquela amarra que os unia para sempre. Estavam, quisessem ou não, ligados eternamente. Pela vida, pela emoção, pela fita amarelo-ouro.
Lentamente o ônibus subiu a avenida, misturou-se ao mundo de luzes em movimento. E desapareceu.


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Feche os olhos, Faça 3 desejos e sopre suas velinhas!!!


quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A canção, o idioma e o disco novo do Tavito.


"… Tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de português …"
Tantas décadas depois de Noel ter escrito esses versos, não me parece exagero afirmar que o verdadeiro idioma do povo brasileiro agora é a canção popular, porque já passou de brasileiro.Falamos canção. Nos estádios, nos aniversários, nos bancos lá de trás do ônibus, nos programas de calouros, nos karaokes. Falamos canção quando lembramos do primeiro beijo, da primeira festa, do primeiro amor. É canção que nos vem à mente quando pensamos em explicar o que sentimos, o que queremos, o que sonhamos. Se o caso é protestar, canção. Se é hora de carnaval, canção. Uma conquista ? Um drink ? Uma saudade ? Canção, canção, canção.


E como uma coisa leva à outra, fazemos canções umas melhores que as outras. Somos bons em canção, talvez os melhores. Sambas, bossas, xotes, frevos. E tome baião e chamamé e moda de viola e marchinha de carnaval. Samba-canção ? Temos. Boleros ? Fazemos. Rocks ? Reinventamos ! Tropicalizamos a canção do mundo todo e não é à toa que ditamos moda. Falamos canção, somos mestres nisso. E olha que falar canção não se aprende no colégio …Arrisco dizer que sempre fomos bons em canção, desde sempre. São tantos os gênios que ajudaram a construir a canção brasileira que é difícil saber quem é quem nesse panteão. Mas parece ter havido um momento, um momento mágico, em que todas as vertentes se encontraram e puderam conviver, diversas gerações compartilharam seus auges criativos e dessa simultaneidade a canção brasileira saiu ainda tão mais forte e mais madura que de lá pra cá ninguém fala canção melhor que nós.

Nesse tal momento mágico, um tempo entre o finalzinho dos anos 50 e os últimos suspiros dos anos 70, uma linhagem especial encontrou espaço e clima propícios para suas criações e inovações. Uma estirpe de cancionistas raros, tanto pelo talento quanto pela ousadia, que não só produziram canções de beleza ímpar mas que também cruzaram as fronteiras da tradição e fabricaram novos futuros e horizontes, como se fossem deuses.Desta linhagem, alguns já se foram e muitos foram se tornando bissextos, esparsos, ausentes mesmo. Os motivos são vários e não vêm ao caso. A consequência, porém, é importante e de se lamentar. A falta que eles fizeram, e ainda fazem, deixou um vazio imenso em que nós, que falamos canção, aprendemos que a canção às vezes também pode se calar.Mas eis que trago uma boa nova. Vem aí um novo disco de um desses raros cancionistas, vem aí o disco novo do Tavito. Tavito é um daqueles alquimistas que de misturas improváveis extrai ouro puro. Uma canção dos Beatles na lembrança, uma ou duas toadas correndo nas veias e pronto: lá vem uma Casa no Campo. É assim que fazem os mestres, eles criam. É assim que Tavito faz.O disco novo está lindo. Um Tavito clássico e ao mesmo tempo renovado em novos parceiros, arranjos bonitos e canções daquelas que nós gostamos de falar. A canção brasileira agradece a retomada de Tavito. E nós agradecemos também, porque Tavito é um daqueles poucos artistas que nos entende e nos traduz em notas e versos. Sim, Tavito é que nem a gente, ele também fala canção.
(Alexandre Lemos )


1969,O Beijo do Tempo




TUDO é:
(clique em cima das canções para assistir aos filmes)


1.1969, O Beijo do Tempo - ( Tavito - Gilvandro Filho)
02 - O Dia em Que Nasceu o Nosso Amor - ( Tavito - Luiz Carlos Sá)
03 - Embora- ( Tavito - Alexandre Lemos)
04 - Uma Banda em Sampa - ( Tavito - Rocknaldo)
05 - O Primeiro Sinal - ( Tavito - Ney Azambuja)
06 - Gostosa - ( Tavito)
07 - Tudo - ( Tavito- Alexandre Lemos)
08 - Aquele Beijo - (Tavito - Ney Azambuja)
09 - A Grande Sorte - ( Tavito - Luiz Carlos Sá)
10 - Um Certo Filme (Rock da Mamãe) - (Tavito - Rocknaldo)
11 - As Meninas - (Tavito - Helder Braga)
12 - Hoje Ainda é Dia de Rock - (Zé Rodrix)
13 - Minas de Encanto - ( Tavito)
14 - Rua Ramalhete (Reloaded) - (Tavito - Ney Azambuja)


Lançamento dia 15 de Dezembro!!



segunda-feira, 10 de novembro de 2008

AMANHÃ

Release do Novo CD de Sá, Rodrix & Guarabyra


Ao contrário do que muitos pensavam, o lançamento em 2002 do CD e DVD ao vivo "Outra Vez na Estrada" não serviu apenas de simples revival do trio Sá, Rodrix & Guarabyra, mas foi o ponto de partida para o reinício de uma carreira a três desfeita vinte e seis anos antes, com a saída solo de Rodrix e a seguida em frente da então dupla Sá & Guarabyra. O sucesso obtido durante a longa temporada de separação não fez nenhum deles esquecer o prazer que sentiam cantando, tocando e compondo juntos. E para confirmar essa intenção de continuarem unidos, eles lançam agora, seis anos e muita estrada depois da reestréia, um novo CD: o "Amanhã".

Ao contrário do anterior, que apesar de lançar cinco músicas novas baseava-se principalmente em regravações de grandes sucessos, "Amanhã" traz doze músicas completamente inéditas, o que talvez vá na contramão do mercado, mas reafirma o sentido autoral da carreira deles. "Amanhã" traz ainda uma estrutura rara nestes dias de crise do mercado fonográfico, utilizando cordas e sopros reais e unindo em torno do CD uma equipe de primeira linha, com nomes como Tavito (produção e arranjos vocais), Eduardo Souto Neto, Paulo Calasans, Constant Papineanu e Ruriá Duprat (arranjadores) e uma banda de apoio que une músicos veteranos e consagrados como Pedrão Baldanza (baixo e vocais) e Constant Papineanu (teclados) a jovens valores já em vias de consagração como Tiago Costa (teclados), Fábio Santini (guitarra) e Alex Reis (bateria e percussão).

No repertório, liderado por "Amanhece um Outro Dia" (Sá-Guarabyra-Vitor Martins), abertura da novela "Revelação", do SBT, destacam-se músicas que remetem à ambigüidade urbano-rural que sempre marcou S,R&G, como "Cidades Meninas" – uma homenagem às cidades mineiras com nomes de mulher – "Novo Rio" e "Sonho Triste em Copacabana" , ligadas às origens cariocas do trio e "Dia do Rio", que lamenta o descaso ecológico reinante no país e mantém a tradição "verde" do trio.

Já no novo show, S,R&G levam em frente a tradição de qualidade musical e profissionalismo que fez com que eles prosseguissem através de trinta e sete anos de carreira como artistas sempre requisitados, com um repertório que une as músicas do novo disco a outras "pinçadas" entre os maiores sucessos de sua carreira, que conta com hits do calibre de "Dona" (Sá & Guarabyra), "Sobradinho"(Sá & Guarabyra), "Caçador de Mim" (Sérgio Magrão - Sá), "Mestre Jonas"(Sá-Rodrix-Guarabyra), "Casa no Campo" (Tavito-Rodrix) , "Espanhola" (Flávio Venturini-Guarabyra) e outras.


"AMANHÃ" é:

CIDADES MENINAS (Sá, Rodrix & Guarabyra)
O DIA DO RIO (Sá, Rodrix & Guarabyra)
LOGO EU, SAUDADE (Sá, Rodrix & Guarabyra)
MARINA EU SÓ QUERO VIVER (Guarabyra)
SONHO TRISTE EM COPACABANA (Rodrix-Sá)
NOVO RIO (Sá)
NÓS NOS AMAREMOS(Guarabyra)
AMANHECE UM OUTRO DIA (Sá-Guarabyra-Vitor Martins)
CAMINHO DE SÃO TOMÉ (Rodrix)
AMAR DIREITO (Sá)
OS 10 MANDAMENTOS DO AMOR (Pedrão Baldanza - Sá)
AMANHÃ (Rodrix)

sábado, 8 de novembro de 2008

Zé Rodrix em Porto Alegre

Zé Rodrix contando "causos" & canções no Auditório Barbosa Lessa

Nota do site oficial da Feira:

Rodrix levanta a platéia na Feira ----------------------------------
O músico e compositor Zé Rodrix levantou a platéia na noite desta sexta-feira no Centro Cultural Erico Verissimo. Ele relatou, com seu jeito bem humorado e carismático, sua carreira e as histórias de sua vida. Relatos sobre criação musical, festas e aventuras estiveram em evidência.
Entre uma história e outra, tocava canções em seu órgão. Também falou de aspectos da criação não só através de sua história musical, mas também a partir da experiência como escritor e palestrante. O público que lotou o auditório Barbosa Lessa, formado em sua maior parte por fãs do trabalho de Rodrix, ouviu histórias sobre a relação do ídolo com nomes que marcaram e marcam a cultura do País, como Elis Regina e José Trajano.

Virgínia ( M-Miga gaúcha)



Carlos Maltz e Zé Rodrix

Zé Rodrix e M-Migos gaúchos ( alguns "importados", como a Gabi, do Pará)




sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Zé Rodrix na Feira do Livro de Porto Alegre

Quem perdeu o talk show ontem ainda tem uma chance de assistir, hoje, às 20 hrs, no Auditório Barbosa Lessa, no Centro Cultural Erico Veríssimo!!!

Quem já assistiu poderá rever Zé Rodrix cantando e contando ( cada vez melhor) causos e canções! A palestra é basicamente a mesma que foi proferida na Biblioteca do Tatuapé há alguns meses atrás: 3 horas de conversas , canções e risos. O "tempero" extra é adicionado pelo público que o assiste, podendo variar de audiência para audiência! Programa IMPERDÍVEL!!



"Zé Rodrix: As Canções - A criatividade como processo de vida
Show/palestra onde abordará os variados aspectos da criação não só através de sua história musical, mas também a partir da experiência como escritor e palestrante. "


Hora: 20:00
Local: Auditório Barbosa Lessa - CCCEV ( Centro Cultural Erico Veríssimo) -
Porto Alegre - RS

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

À Espera do Expresso Oriente

Logo estarei dobrando a esquina da vida e ainda não conheci a China. Desde os vinte e poucos que me prometo essa aventura à terra dos criadores do macarrão e do I Ching, sem jamais ter satisfeito o compromisso. Até hoje, o máximo que cheguei perto, se é que se pode chamar a isso de "perto", foi uma ida à Europa, quando conheci apenas Paris muito rapidamente, pois tinha compromisso em Nova Iorque dois dias depois. Porém, ainda não perdi a esperança de um dia sair mundo afora vendo o que ainda não vi e experimentado novas sensações, da mesma forma como, durante a juventude, arrisquei a vida ao pendurar-me, segurando firmemente uma pesada filmadora, num galho que se projetava sobre os 600 metros de fundura do cânion do Itaimbezinho. Ou quando presenciei o pôr-do-sol extraordinário da confluência do Rio das Velhas com o São Francisco.



O sonho do meu compadre Augusto sempre foi o de chegar à Índia, a mística terra das mulheres de véus e pearcing no nariz. — Aprecio o pearcing nas mulheres de lá, todavia não me acostumo com os adornos metálicos enfeitando as narinas daqui. Não digo que fique tão esquisito quanto um russo das estepes usando vestimenta de cangaceiro. No entanto, sempre cismo que alguma coisa não combina. — Mas Augusto desembarcou em Nova Delhi louco para curtir um mundo novo. Só que foi obrigado a cumprir quarentena no hospital do aeroporto, posto que tinha desembarcado antes de cumprir o prazo previsto para validar a vacina que havia tomado aqui. Teve de aguardar sete dias hospedado numa enfermaria malcuidada, comendo o pão que algum deus hindu, decerto equivalente ao nosso diabo, amassou. O prazo venceu num domingo à noite. Augusto César Pinho Pinheiro apresentou-se imediatamente à portaria de malas prontas. O porteiro indiano, sem sequer se desentreter da leitura de um jornal, informou que só na segunda estaria presente o funcionário que poderia desenjaulá-lo. O compadre virou bicho, exibiu o papel contendo a data do fim da quarentena, brandiu o passaporte, ameaçou chamar a embaixada, exigiu um advogado. Tanto aprontou que enfim tirou o sujeito da atitude displicente e o compeliu a pegar o telefone e falar com algum superior. Conseguiu sair.


A viagem, porém já estava comprometida. Depois de tantos dias curtindo um ambiente infecto em vez do luxuoso hotel que havia reservado, e de haver curtido um obrigatório frango ao molho de um curry malcheiroso com arroz empapado, servido todos os dias, em lugar dos previstas iguarias da apurada gastronomia indiana - quiçá servido num belo restaurante e servido por morenas de pearcing — estava louco para dar o fora. Não só do hospital como do próprio país. Até hoje, muitos anos depois da malfadada aventura, ainda não consegue recordar a Índia com prazer. É um raro exemplo de quem conheceu a terra dos sonhos em meio a um pesadelo.


No entanto, não será por causa de histórias como esta que deixarei de prometer a mim mesmo que viajarei a ver as terras com que sonho. Apesar de que, brasileiro que sou, possuo a tendência de deixar tudo para a última hora. Sendo assim, tenho de me decidir antes que o propalado fim do mundo seja concretizado. Do contrário, vai ser difícil achar passagem com tanta gente tentando realizar tardiamente, e ao mesmo tempo, a viagem de suas vidas. E vou acabar restando por aqui mesmo, sonhando sonhos previamente desfeitos, enquanto o sol desaba na China e a lua despenca do céu, arrasando os jardins do Taj Mahal.
Guttemberg Guarabyra - Novembro, 2008

terça-feira, 4 de novembro de 2008

CAÇADOR de MIM, a canção!

Amigos:
Ano que vem sai meu livro com uma compilação da série de crônicas “Na Estrada”, que fiz para a revista BackStage, uma memória de viagens de música. Agora inicio outra série para a mesma revista, “Vida de Artista”, com considerações e orientações, para os que querem iniciá-la, sobre e para uma carreira profissional de músico e artista. Espero que vcs continuem gostando. Beijos e abraços do amigo
Luiz Carlos Sá



VIDA DE ARTISTA
luiz carlos sá

Nós, compositores, cantores, músicos ou criadores de outros tipos de quem não posso falar com a devida propriedade, temos decerto um prodigioso pára-raios onde antigamente devia existir a famosa moleira. Mas esses pára-raios são diferentes: em vez de nos proteger das faíscas, elas as conduzem até nosso cérebro, onde rola, finalmente, o surto-circuito – isso mesmo, surto (não curto) circuito! - que chamamos criação. Esses tais raios nos atingem sem hora, dia ou lugar predestinados e nos deixam zonzos, imaginando se nossas mães não nos teriam mergulhado propositadamente, no lugar do batismo convencional, numa banheira de gelatina psicodélica... Chama-se a isso “inspiração”, um nome bem próprio se pensarmos que tais coisas parecem nos entrar narinas adentro, como aquele determinado cheiro que faz com que nos lembremos de atos e fatos que julgávamos esquecidos.
O problema é que depois da inspiração tem que vir a transpiração. Nela nossa cabeça trabalha fisicamente, como um atleta, esforçando-se por atingir a perfeição da criatividade, costurando o improvável, remendando o disperso e tendo que coordenar da maneira mais organizada possível aquilo que se passa na nossa pobre imaginação limitadamente humana.
Foi pensando nisso que resolvi mudar o rumo dessa minha coluna, que até agora se dispunha a contar os acontecimentos de trinta e tantos anos de viagens e shows Brasil e mundo afora, para refletir sobre o que nos leva a viver de uma determinada maneira que se convencionou chamar de “vida de artista”. Porque não escolhemos uma vida mais “tranqüila” e “segura”, como a maioria de nossos pais (tenho certeza dessa maioria...) quis nos induzir a viver? Porque o artista passa tantas vezes por essas desnecessárias angústias, por esses atalhos incongruentes, por essas dúvidas injustificadas? A resposta é simples: só nós temos que ser ao mesmo tempo cigarras e formigas. Cigarras pelo prazer de exercer a arte, formigas pelo dever de encarar os prosaicos, mas essenciais, problemas do dia a dia: comer, morar, ter família... Ainda assim nosso papel social é muitas vezes visto com um injustificado ceticismo por aqueles que acham supérfluo o exercício da Arte, mesmo que esse tipo de pensamento seja insustentável diante do simples conhecimento da História do Mundo.
Por isso, deste mês em diante, vocês lerão aqui o “Vida de Artista”, onde pretendo refletir sobre as várias correntes do grande rio que nos leva a optar por esse jeito diferente de viver.
Se é que é diferente...


luiz carlos sá












EU, CAÇADOR DE MIM

Pense em São Paulo ,1979. Eu estava ali sentado na sala que ocupava em meu estúdio, o Vice Versa, pensando no que fazer naquela tarde desanimada de verão paulistano. De repente, toca o telefone:
- Alô?...
- E aí, Sá, é Magrão...
Meu amigo Sérgio Magrão , baixista do então quase-recém-formado 14Bis.
- Fala, Magreza! – brinquei.
- Estou aqui com uma música pra te mostrar. Queria que você fizesse a letra.
Sérgio Magrão foi o primeiro baixista de estrada de Sá, Rodrix & Guarabyra. Começara conosco em 72 e nos acompanhara na mudança do Rio para S.Paulo quando fomos chamados por Rogério Duprat para integrar a equipe de criação da Pauta Produções e depois associar-nos ao Vice Versa, estúdio de gravação e publicidade que criamos com Duprat e mais dois sócios em 74. Na primeira leva paulistana, eu, Rodrix e Guarabyra carregamos conosco Magrão no baixo e Luís Moreno na bateria. Depois da saída de Rodrix, eu e Guarabyra trouxemos Sérgio Hinds na guitarra e Cezar de Mercês nos vocais e na percussão, completando depois a banda – que gravaria conosco o primeiro disco da dupla, o “Nunca” - com um jovem tecladista mineiro indicado por Milton Nascimento, Flávio Venturini. Depois, essa banda backing virou a segunda formação do Terço e desembocou no 14Bis . Mas o que eu ainda desconhecia era o fato de que Magrão também compunha. Fiquei surpreso:
- Ué! Você tá compondo agora?
Magrão ficou meio espantado com a minha reação:
- E porque não?
- É bom saber!
E eu devia mesmo ter desconfiado antes do talento compositor de Magrão. Porque você pode perceber pela melódica do instrumentista quando ele também pode compor. É só começar...
- Dá pra você passar aqui agora?
- Estou indo.

Sá & Guarabyra e O Terço ( foto site Luiz Moreno- agradecimentos à Irinéia)
E lá veio ele. Em menos de uma hora estávamos juntos na minha sala. Magro pegou o violão e começou a desfiar uma melodia suave, simples, mas muito bem engendrada. Fiquei encantado com a força e a beleza contidas nela, à espera apenas das palavras certas. Depois que Magrão saiu fiquei ouvindo no meu micro-cassette – então ainda uma novidade! – a melodia que ele me deixara. Uma coisa qualquer, uma “inspiração”, fez com que eu remexesse minha bagunçadíssima primeira-gaveta-à-direita atrás daquela letra que eu fizera meses atrás depois de reler pela terceira vez o “Apanhador no Campo de Centeio” de J.D.Salinger:

Por tanto amor, por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz, manso ou feroz, eu, caçador de mim...

A letra era o retrato de minha vida à época, quando eu reavaliava minhas opções como artista e como pessoa. A necessidade de entrar de cabeça no mundo dos jingles, para podermos pagar o estúdio, me enchera de dúvidas. Quem eu era de verdade, o que eu queria, onde eu gostaria de chegar, todas aquelas perguntas sem resposta que nos acometem mais tarde ou mais cedo ficavam ecoando na minha cabeça confusa, em plena crise dos trinta ou como quer que vocês queiram chamar essa encruzilhada esquisita onde chegamos às vésperas da meia-idade. Para meu completo espanto a letra foi aos poucos se encaixando magicamente na melodia do Magrão, sem que eu tivesse que mexer um dedo na métrica:


Preso a canções, entregue a paixões que nunca tiveram fim
Vou me encontrar longe do meu lugar, eu, caçador de mim...



Para que seja bem entendido o inusitado da situação, explico aos não-compositores que um acontecimento desses – um acerto de letra e melodia sem conhecimento anterior - beira o mediúnico, como se eu e Magrão tivéssemos experimentado inconscientemente algum tipo de telepatia...
Mas a moleza acabou na segunda parte, e aí veio a fase da “transpiração”. A letra na gaveta parava ali, divisão se reduzia e eu tive que conter meu entusiasmo e fazer do menos, mais. Afinal consegui resumir o que eu acreditava ter que fazer num futuro próximo:



Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito à força numa procura
Fugir das armadilhas na mata escura...



Como fechar? Eu sentia que tinha que contrapor a dúvida à certeza, para expressar direito o que estava se passando comigo. Levei mais uns três dias obcecado pelo que faltava, até terminar:



Longe se vai, sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu, caçador de mim



No dia seguinte chamei Magrão de volta ao estúdio e ficamos horas tocando a música completa, maravilhados pelo bom resultado. Dias depois tivemos uma reunião com o resto do pessoal do 14Bis em minha casa. Vermelho, o tecladista, egresso do grupo Bendengó e também nosso amigo de longo tempo, questionou o título da música:
-“Caçador de Mim”? De onde saiu isso?
Entendi a estranheza e expliquei longamente a relação entre a letra e a temática do “Apanhador...” de J.D.Salinger. Vermelho, pragmático total, achava aquilo tudo longe do cidadão comum e do dia-a-dia. Mas eu confiava, e até hoje confio, na intuição artística como uma arma superior a qualquer teoria. Algo me dizia que aquela música seria um marco na minha vida e talvez na de muitas outras pessoas também:
-Vai por mim. Todo mundo vai entender o que isso quer dizer.
Convencido o Vermelho e o resto do grupo, o 14Bis gravou a música. Não muito tempo depois, Magrão levou a gravação a Milton Nascimento. Milton fez questão de esconder de mim até o último minuto, para fazer surpresa, que tinha não só gravado o “Caçador” como também intitulado seu novo disco com o nome de nossa música:
-É minha – dizia ele, e diz até hoje.
Depois de quase trinta anos cantando o “Caçador” em shows, sinto até hoje a mesma emoção que senti junto com Magrão na minha sala da Vice Versa naquele longínquo 1979. Quando depois dos shows, no camarim, as pessoas vêm me dizer que essa música parece ter sido feita para elas numa determinada época de suas vidas me convenço ainda mais de que quando fazemos as coisas com a força da inspiração e da transpiração o tempo parece não passar: pára por ali mesmo e faz com que pensemos nos Salinger, nos Rimbaud, nos Kerouac, nos Rilke, nos Dylan e em todos aqueles – artistas ou não - que renunciaram romanticamente a uma vida normal para provar... O que mesmo? Não importa. Para simplesmente provar. Ou para pôr-se à prova.